quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Ser avó


Netos são como heranças: você os ganha sem merecer.

Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu.

É, um ato de Deus sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade.

E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...

A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade.

Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança.

O tumulto da presença infantil ao seu redor.

Meus Deus, para onde foram as suas crianças?
Naqueles adultos que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas.
São homens e mulheres - não são mais aquelas crianças que você recorda. E então um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis — aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida.

Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que lhe é "devolvido".

E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

Sim, tenho certeza que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela vida.

São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.

Aliás, desconfio muito de que os netos são melhores do que qualquer filho.

No entanto — no entanto! — nem tudo são flores no caminho da avó.

Há, acima de tudo, a rival: a mãe. Não importa que ela seja sua filha ou filho.

Não deixa por isso de ser mãe do seu neto. Não importa que ela ensine o menino a lhe dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha", e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você.

E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: "Vó!", seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.
Ser avó é ganhar um pedacinho do céu porque é um presente de Deus que vai chegando aos poucos.
Ser avó é divino. É tempo de curtição.
É rejuvenescer naquele ser que cresce. Tudo tem mais sabor.
Te amo João Vitor!

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